Estava me preparando para iniciar meu expediente noturno. Trabalhar. Dar conta do recado de madrugada, enquanto todos estão ainda descansando, é um prazer que aprendi com o passar dos anos. E tem sido maravilhoso para mim. Produtivo ao limite.
Então, enquanto todos acordam e vão para o trabalho, eu vou dormir. Adoro dormir de manhã, enquanto o sol banha a cidade e sorri enquanto todos ficam suados e cansados.
Pois não é que dei de cara com a foto! Aquela do momento mágico do café com leite, depois de uma bem dormida manhã, acompanhada de amor. E ele estava ali. Na minha frente, no meu monitor de vinte e uma polegadas. Com parte do queixo encostado na parte superior de minha cabeça loira, sua barba quase branca roçando na minha pele. Até pude sentir. O sorriso estampado no rosto lindo e uns olhos de esfinge. Seria eu capaz de decifrá-los? Ou estariam prestes a me devorar? Eu seria a devoradora, se ele não me decifrasse? Que enigmas!!
Esta imagem tem quase todos os meus símbolos. Cabelos amarelos. O meu e o dele. O colar preto, de valor nenhum, feito de linha com um pingente qualquer insignificante. O vestido feito por mim, florido, por que adoro a insignificância das pétalas. Meus olhos, seus olhos. O café! Uma xícara branca e grande o bastante para conter a cafeína necessária para me acordar pelas próximas quatro horas. Até o almoço, quando, então tomo mais do néctar dos pobres e intelectuais de vício barato. Minhas orelhas sem adornos. Meus lábios sem cor.
Faltaram ainda o livro, o lápis, alguma música, uma criança e meu inseparável anel preto, que, já me disse uma amiga de infância, serve para afastar de mim anel de casamento. Teria ela razão? Afinal, fiquei com este pretinho de quenga de coco durante nove anos, sem pedidos, agora reparo.
Pois é! A vida é assim. Bela como o sorriso giocondo de Vital. Mas voltemos ao trabalho. A Telemar e meu locatário estão pouco se lixando para o meu lirismo.
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