Este homem imortal tem o poder de assanhar minhas vontades mais tímidas de produzir. Sua paixão e obstinação natural para pintar qualquer coisa, a qualquer hora, em qualquer lugar ou circunstância põem pra fora minhas necessidades de expressão.
Se ele podia, eu também posso. Somos parecidos, embora estejamos imensamente desconectados. Aindo conto com a desvantajosa situação de ter nascido no lugar, no ano, no década errada. Mas, para mim, mais um motivo para não me conformar.
Se vou ser famosa, rica e endeusada como ele, não me interessa. O elo que nos une e me fascina é nossa vontade suprema de viver intensamente as paixões da vida.
Transpirando energia, Iago, que não gosta de se melar de tinta, mas prefere passar pela vida fazendo os outros rir.
Fui para a cama com Picasso e as crianças. Elas dormiram logo, mas eu fiquei como a maioria das mulheres que tiveram o prazer de conhecê-lo; sem poder dormir. Embora cansada e cheia de coisas a fazer na manhã seguinte, mesmo sabendo que preciso salvar energia para meus rebentos cheios de pique, de bom humor e desafios de vida, a inquietante sensação de que as idéias poderiam fugir se não "desenhasse" agora, me tiram o prazer do sono.
Criatura mágica e eterna, este homem. Mesmo depois de morto, tem o poder de nos deixar vivos. E vivendo. É verdade! Picasso só foi "precedido pelo homem que ele mesmo foi", Apollinaire estava coberto de razão.
Ei! meus amados amigos, vou voltar às minhas "telas digitais" na esperança de que o magnifíco e inconfudível dom do Mestre me presenteie com uma simples pincelada. Mas como ele diria com seu insuficiente francês com sotaque catalão, ce la vie!
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